O dia da criança de 2010 foi diferente para o Movimento Sem Terrinha e para as crianças moradoras do Morro Santa Tereza em Porto Alegre.
As crianças do campo vieram conhecer a história das crianças da cidade. Histórias de vida diferentes? Nem tanto. Todas elas crescem inseridas num cotidiano de luta por direitos tão básicos, e ao mesmo tempo tão difíceis de se garantir. Moradia, educação, espaço de convívio comunitário, entre outros.
Entre estes tantos direitos está a memória como peça fundamental para a constituição da identidade do indivíduo e do grupo social. A memória é ferramenta indispensável para que as novas e próximas gerações, saibam dos esforços feitos hoje para o bem estar no futuro.
O Movimento o Morro é Nosso é isto.
O Movimento Sem Terrinha também.
O Movimento Sem Terra já sofreu durante anos a experiência das interpretações e desinformações dos meios de comunicação. As histórias que preenchem os espaços noticiosos estão, quase na totalidade, unificadas numa versão contrária a que vivem.
A câmera pinhole gigante foi montada com tubos de PVC e lona plástica preta, utilizada para levantar acampamentos do Movimento de Trabalhadores Sem Terra. A experiência fotográfica reuniu quase 500 crianças.
A intenção da educação fotográfica é fazê-los autores desta produção de narrativas em imagens. Promovendo a experiência suficiente para que saibam fazer, absorvam como prática cotidiana, mas também que sejam hábeis críticos dos trabalhos turvos que não compatibilizam com a sua própria visão.
A fotografia é fundamental neste processo histórico e comunicacional. Por transmitir a mensagem formulada pelo autor, fotógrafo, mas também carregar detalhes primários, símbolos, sinais, que possibilitam o resgate de outras lembranças, ativam o imaginário e propulsionam as conexões.
Na prática desta atividade, as centenas de Sem Terrinhas que vieram ao Morro Santa Tereza no dia da criança estavam com câmeras fotográficas compactas que circularam entre mãos e olhares distintos. Uma real e direta memória coletiva. Uma oportunidade para eles instigarem o olhar e a percepção.
Didaticamente, a câmera gigante do Morro Santa Tereza desmistificou a noção de fotografia industrial. A fotografia está fisicamente em nosso entorno. Ela está constantemente sendo construída em nossa mente, ao olhar algo que desencadeie um raciocínio. A fotografia não precisa necessariamente de um botão em um equipamento movido a pilhas.
Os vídeos aqui postados mostram um pouco do que aconteceu neste dia. No primeiro, a câmera gigante com as exclamações e interrogações previstas. Já a produção fotográfica montada no segundo vídeo, também pode ser vista com mais tempo no www.flickr.com/photos/semterrinhas.
Os agradecimentos são para todos que estiveram envolvidos e presentes na grande festa. Especialmente para a Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta Favela, Coletivo Catarse, FestFotoPoa, lideranças e moradores das comunidades do Morro Santa Tereza. Aos fotógrafo Leonardo Melgarejo e Luiz Abreu. Ao Movimento Sem Terra. Aos participantes do Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo.
Esta iniciativa simultaneamente se inspira e fortalece
a política de Pontos de Memória Fotográfica.
Texto e vídeos: Eduardo Seidl
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